sexta-feira, 30 de outubro de 2009

VICTÓRIA


VICTÓRIA

Parei em frente daquela Vitória...
O vento em suas vestes moldava-lhe o corpo...
Sugerindo seus joelhos torneados...
Seus seios sonhados, esculpidos,
Gritavam desejos, não contidos, ansiados...
Seus braços abertos eram a procura do mistério...
Eram o grito que a boca não tinha...
No rosto de pedra a vida jazia,
Perdida no Paternan da saudade...
Com suas asas abertas, sugerindo liberdade...
Ela a Vitória alada, presa na pedra morria...
Estaticamente, senti-a inacabada...
Faltava-lhe o sopro... a chama...
A vida asfixiada dentro da pedra de onde foi talhada...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

SOL...


Abri a janela, o dia estava lá á minha espera,
Cinzento, tristonho, mas menino.
Brincava com os pés descalços,
Nas poças de lama, que a chuva tinha deixado ,
No noite em que ele dormia....
É Inverno, o frio entra pela casa,
Corre-a como se soube-se todos os locais...
Poisa em mim, não me deixa pensar...
Lá fora o vento brinca ,
Correndo com ele á desfilada,
Crescem ambos em sintonia...
A manhã já vai longe, é Dia!
Já não brinca, passa.
Passa como o vento com quem corria...
Fecho a janela, já não é nada..

SOL

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

TRITEZA


TRITEZA

Estou triste... Triste... nem sei porquê ...
A alma adensa-se na noite,
Une-se a ela, chora, mas porque chora não sei...
Será algum vago pressentimento?
Será o rumor do vento além,
Que me lembra algum passado,
Alguma dor mal curada?...
Não sei!..
A tristeza que tenho é congénita,
Como uma doença má...
Nasceu comigo, que fazer?
Deixo que a noite caminhe,
Que espere o sol da manhã,
Quem sabe, talvez a tristeza não passe
De uma palavra vã....

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

GELO NOS BEIRAIS


GÊLO´NOS BEIRAIS....

Há gelo preso nos beirais....
O sol mora ao longe, a tempestade agita o tempo,
O frio grita gélido, entre a madrugada,
E o dia que aí vem...
Os pássaros calam-se,
Os gatos procuram o calor mutuo,
Enrolando-se entre si , como certas voltas da vida....
Há gelo dentro de mim...
Nem sol, nem riso, apenas uma indiferença do tempo,
Um devaneio perdido, sem rumo nem sentido...
Que falta me faz o sol!...
Aquele que brilha magico através do tempo sem tempo...
Mas o outro... A palavra, o carinho, o toque de um sorriso,
O preencher da emoção...
Uma simples lembrança, a certeza da existência,
Da reciprocidade, da verdade,
Do calor que adevem do amor...
Esse que tanto procuro,
Perde-se no ocaso da vida, cinzento e frio
Como o gelo que gela nos beirais…

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

ESPERAR


ESPERAR

Esperar. Esperar na negrura da noite,
Na impaciência do sentir.
Os meus passos correm por caminhos que
Levam a todo o lado...
Ruas desertas gritam de solidão...
Luzes veladas espreitam as esquinas
Dos medos arraigados no coração...
Cânticos loucos ferem o ar,
Rasgando a calma absurda e fantástica da noite
Que adormece nos braços do tempo.
Esperar, o que não quero, nem sei...
Esperar, com gritos, com revoltas,
Com remoinhos de dor...
Correr, fugir, deixar o tempo entrar em mim,
Sair daqui, não esperar, não querer,
Apenas sonhar, perder-me, não acordar....

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

NEVOEIRO DE ESPERANÇA


NEVOEIRO DE ESPERANÇA

Há sempre um nevoeiro!
Há sempre um marinheiro!
Há sempre um Sebastião....
Nos nevoeiros opacos densos me escondi,
Gritei ao vento, á tempestade,
Corri o mundo levei alma de marinheiro...
Ganhei... e perdi...
Em terra de Prestes João aprendi.
Aprendi a fé nos homens e em Deus...
Mas esqueci. Talvez porque Prestes João não vi...
Mas vi Sebastião...
Vi a barca, vi a esperança,
Vi o sorriso e o sonho a baloiçar nas mares...
Rios de vida correram em meu corpo.
Forças desumanas soltaram-se em minha alma...
Sebastião sim, mais que Prestes João
Não é lenda é verdade,
É a força de perder para ganhar a liberdade!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

TANTOS DEUSES...


TANTOS DEUSES...

Tantos Deuses! Deuses grandes e pequenos,
Mal amados, confundidos, escondidos,
Entre esperanças e certezas,
Entre crenças e descrenças...
Tantos Deuses existindo por aí,
Senhores absolutos do absurdo da vida
Nada são, mitos apenas , Deuses pequenos
Que de tão pequenos já nem em si próprios crêem....
Mas são Deuses... Deuses falsos de vidro colorido,
De pinturas abstractas, de imaginações baratas...
Deuses esquecidos no tempo do Olimpo,
Nas terras Celtas, Maias Egípcias...
Deuses arrogantes, castrantes,
Senhores humanos poderosos e mortais...
Tantos Deuses, esquecidos, renascidos,
Um infindar...
Porem, só um, um apenas, o meu coração
Me deixa acreditar!....

PENSANDO EM TI


sábado, 17 de outubro de 2009

PENSANDO EM TI

Lentamente abro as cortinas da janela,
Que dá lá para fora. O sol bate no muro branco,
As sombras das arvores dançam na sua brancura...
O céu está imensamente azul,
Um par de rolas namoram além...
E eu fico aqui olhando o nada,
Pensando em ti...
Penso em palavras que dissemos,
E outras escondidas nas metades das que não dissemos...
Penso em risos, e olhos a brilhar...
Em ficarmos parados, calados,
Como que a definir sentimentos,
A criar uma corrente que atravessa
Os nossos pensamentos...
Depois, falamos e lembramos tempos, coisas...
Fico aqui a ver o sol, e as folhas das arvores
Desenharem sombras, no muro branco...
E perco-me na memória do tempo, e em ti....

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

entre o sonho e a razão


entre o sonho e a razão

Entre sentir e razão ,
Entre sonho e inteligência,
Meu coração cavalga no tempo,
Minha razão pára na eternidade.
Ser inteligente, pensar friamente,
Analisar toda a anatomia do sentir.
Dissecar cada fibra, cada nervo, de um coração
Que bate pela razão de bater...
Mas libertar o sonho, a poesia,
Criar a vida com toques de cor,
Com génio de escultor...
Sentir sem razão os novelos da emoção
Enleados em duvidas... em não certezas...
Mas que importância tem?
O por do sol já sombreia a terra,
O coração da razão sabe que está a acontecer,
O processo normal do sistema solar,
Certeza, verdade, ciência...
Mas o outro coração, o dos poetas,
Dos que sonham, é magia é ritual secreto,
Colorido, é milagre de alquimista
Transformando o céu, o poente em ouro!
Entre a razão, e o coração,
Fico aqui perdida na imensidão
Da beleza que a minha inteligência sagra....
E o meu sonho realiza!...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

VAZIO


VAZIO

Uma musica perde-se no ar...
Não sei se melodia ou poema...
Inconsciência e lucidez, é o momento
Em que me sento e escrevo...
A musica faz apenas parte do momento...
Perde-se sem pena no ar...
A luz vem da janela aberta,
Luz apenas, sem cores nem sentidos...
Hoje nada tem sentido,
Nada marca o seu lugar,
Nem o sorriso, nem a lagrima...
É apenas um dia que passa devagar...

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

solidão......


SOLIDÃO

A luz do dia já não se demora,
A noite trás sombras que crescem
No abandono de uma casa vazia...
Por detrás de cada porta,
Há um grito ausente que se levanta
Quando me sento aqui a recordar,
A pensar, a sentir as marcas do passado,
E da sua ausência...
Corro a casa. Em cada canto,
Em cada aresta, há memórias
Entranhadas que doem, mas são já um habito...
Há estilhaços de sonhos caídos
Por todo o chão...
Há murmúrios antigos de solidão...
A casa está fria... A noite chegou,
Engoliu todas as sombras,
Deixando uma enorme escuridão..

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

POEMAS DO DESERTO

Há poemas escritos nas areias dos desertos,
Que o vento arrasta na sua dança entre as dunas.
Nómadas senhores, trazem na alma,
Tatuada a cantiga das tempestades ensolaradas,
Em campos doirados tocados pelos dedos
Longos dos Deuses do deserto,
O sol dança com as sombras projectadas
Nesse chão macio e irregular.
A terra arde entre o nada, e o céu explode de azul....
O ocaso transforma a terra,
E o poema nasce ali onde o vento canta,
E o horizonte não tem fim....

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

LENDA


LENDA

Há um vento sibilante entre as fragas.
As ondas trazem consigo as algas
Verdes que se espalham pela praia.
Olhando o mar, sento-me aqui e espero.
Espero como Penelope esperou Ulisses,
Tecendo o manto de palavras não proferidas, adiadas...
O sol caminha para o ocaso,
Nostalgicamente belo, esplendoroso...
O dia caminha para a noite, e eu, como Penelope,
Desfaço o manto de palavras que urdi
Neste dia que chega ao fim.
Amanhã, recomeçarei, e noutro dia,
E noutro , infinitamente…
Com os olhos presos no horizonte da vida,
Esperando acabar de tecer este manto
De palavras, para um dia te oferecer...

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


AQUELE CRISTO...

Mãos moldaram-lhe o corpo,
A alma deu-lhe vida, sofrimento, dor...
Aquele Cristo traz nele, o grito silencioso,
De todos nós. Nós crentes,
Nós que ás vezes descremos...
No seu corpo tosco, retorcido,
A alma voa á flor da pele...
Sinto o seu olhar no rosto sem forma.
Mas que importa a forma, o rosto, o corpo?
Ele está ali, inteiro, sofrendo, amando,
Ansiando para que alguém pare...
Para que sinta a sua dor...
O seu supremo sacrifício...
Mas de tão ocupados
Em o crucificar, com palavras,
Ódios, guerras, fome. destruição...
Não temos tempo para o olhar, para amar...
Para ver que afinal ELE é apenas nosso irmão...