Um ano? Ano e meio? Não teria mais de certeza…
Esta é a minha mais remota lembrança. A primeira sensação de existir, de ser eu.
Era noite de Natal, na grade cozinha da casa da minha infância, eu ao colo do meu pai, via deslumbrada, e um pouco assustada, os presentes a descerem magicamente da chaminé….
Era tanta coisa! Ou era eu que era tão pequena, que tudo aquilo me parecia um mundo…
Mas lembro-me até hoje de uma boneca, tão grande como eu!... e de um biberão minúsculo, com leite e tudo!...
Nessa noite a família estava toda reunida em casa dos meus avós. Éramos uma família grande ,onde estavam os tos, os primos, os meus avós bisavó, e a madrinha Rosa!
A madrinha Rosa, era a matriarca da família, de que todos respeitávamos e gostávamos.
A casa era antiga e grande, a minha família, morava nos dois pisos que a casa tinha.
Nessa noite reuníamo-nos no andar de baixo, ou seja na grande cozinha que era a alma da casa.
Na chaminé com azulejos azuis e brancos e grandes traves de mármore branco, estava o enorme fogão de lenha, todo de ferro negro, com rebordos de metal que eram areados todas as semanas para ficarem brilhantes e bonito.
O fogão estava quase sempre aceso, engolindo todos os dias enormes quantidades de lenha que era armazenada na parte inferior da chaminé.
Mas naquela noite o fogão já estava apagado há algum tempo, para que o Menino pudesse realizar o seu milagre de Natal, pelas mãos magicas do meu tio Maximiano, que do telhado, a que tinha acesso, pudesse mandar os meus brinquedos pela chaminé abaixo, com todo o cuidado de um milagre de Natal.
Hoje tantos anos passados ainda sinto o amor e a magia que me rodeavam nesse dia .
Vejo-me pequena, muito pequena enroscada ao colo do meu pai.
Vejo os rostos sorridentes de todos os que ali estavam, que me amavam, e que eu amei.
Oiço ainda as exclamações de alegria e entusiasmos de cada vez que algum brinquedo descia da chaminé….
Lembro-me do calor aconchegante da família reunida no grande mesa com a toalha branca e a loiça melhor…
Lembro-me como estávamos quentes e confortáveis ali todos juntos…Só o pobre do tio Maximiano, estava gelado, mas feliz, com aquele sorriso grande que ele tinha, em cima do telhado fazendo o meu milagre de Natal!
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