quarta-feira, 30 de novembro de 2011

SER

Fechei os olhos. A manhã corria… O sol lutava para emergir das nuvens ainda escuras da noite… O vento cantava a canção forte e bravia, Por entre os ramos despidos das arvores… Era Inverno, o frio soltava-se pelas esquinas… Apetecia ficar ali, entre sonhos e aconchegos… Apetecia fechar os olhos e trazer de dentro da alma, Todos os mistérios… Brincar com os pensamentos, Criar lagos de palavras por dizer…. Enrolar-me em mim e parar ali no tempo, no momento… Na fronteira tangente do sonho e da realidade… Olhar para dentro de mim, Trazer á superfície todos os sorrisos do passado… Ser apenas um elemento, fazer parte do vento. Ser semente, fruto maduro… Ser águia em escarpa íngreme açoitada…. Fundir-me no tempo, ser eterna… Cristalizar-me no momento……

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

ESTRELA

Sou viajante do tempo.
Matéria aglutinada…
Sou resto de estrelas em combustão…nada…
Sou em mim matéria perecível…
Sigo a passagem com um rosto onde marca a emoção…
Vida faísca na eternidade…
Relâmpago cortando o céu….
Mas há em mim o infinito,
O verdadeiro e imortal,
Alma e espírito, verdade…
Onde poisam as estrelas e arde a eternidade….

terça-feira, 23 de agosto de 2011

MADRUGADA





Madrugada, todos dormem,
Eu acordada, olho através da janela,
Onde o dia se aproxima sorrateiro….
Trás uma luz cálida que bate nos muros brancos,
E nas janelas fechadas dos prédios velhos.
Hora soberana, magica.
Quando a vida toca terra levemente,
Com seus dedos longos, assobiando uma melodia…
São os pássaros que na arvore grande acordaram,
E dizem bom dia…
Todos dormem, a casa está vazia.
Sinto o seu coração pulsar calmamente, suavemente…
Então enfeito-me com um sorriso,
Sacudo os restos de sono,
Abro os braços e aperto neles o sol…
Ficamos assim um bocado,
Até a casa despertar, até a rua correr,
E ninguém para acordar….


segunda-feira, 11 de julho de 2011

LAMENTOS

Batido pelo vento, o lamento nos canaviais
Trás á alma uma liturgia sibilante
De mágica musica breve
Onde se escreve poemas e enigmas ancestrais…
No flanco do tempo,
Nascem Faunos e Sibilas que dançam
Na noite musicas infernais…
O vento norte,
Trás preces rezadas, palavras nunca ditas…
Deuses escrevem nas areias
Linhas magnéticas da vida e do saber…
Curvam-se senhores,
Dissonantes rumores das vozes negras
Que a terra solta ao crepúsculo
Sem luz de um anoitecer trágico
Cortando as veias do tempo
Em sons de absurdo e mágico.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

A MINHA VICTORIA!

A MINHA VICTORIA!

A MINHA VICTORIA

Num silêncio morno de fim de tarde,
Penso guerreiras, mulheres aladas.
As Vitorias em que penso,
São Deusas de um Olimpo moribundo,
Onde mutiladas, e presas,
As Vitorias já não são Deusas…
Guardam em seus corpos ardentes,
O frio da pedra que as transformou…
Não há grito, não há emoção…
São estáticas…Patéticas Vitorias,
Que o homem sonhou…
Mas se eu sonha-se uma Vitoria….
Em suas asas brancas abertas
Guardaria a força da liberdade
Rompendo a eternidade,
Soltando gritos, voando alto,
Com rugidos de fúria, de desejo,
Tempestades desencadearia.
Seria vento, seria mulher,
Mas jamais estatua fria!....

terça-feira, 7 de junho de 2011

VERDE DE LORCA

VERDE DE LORCA

Quero-te verde como o vento de Lorca…
Quero-te verde nos campos de Andaluzia…
No mar crispado de agonia…
Na lua que nasce ao meio dia…
Nos olhos do tempo, no espelho quebrado…
Na sombra coalhada, na lua branca e fria…
Quero-te verde como Lorca dizia.
Nas estrelas do céu, na madrugada que se anuncia…
Quero-te verde como o rosto do tempo.
Como a arte cigana, como a vida que passa…
O riso… o grito…. A graça…
Quero-te verde em cristais magia…
Em rastos de sangue.
Em gritos de lágrimas…
Quero-te verde como Lorca dizia….

sexta-feira, 6 de maio de 2011

SONHO.......

Soltei a rédea dos sonho.
Corri com eles em cavalgadas indomada
De gritos a baloiçar em oásis de espanto….
Em desertos moribundos de luar…
Queimei quimeras, Toquei cristais de inquietação…
Sorvi o ar em promessas de amanheceres,
Em torres de oiro guardei verdades…
Em espasmos de agonia toquei saudades.
Animal ferido, sangro em gumes de espadas frias…
Canto a Deuses e senhores,
Rolo na terra entre mil dores…
Renasço no nascer do dia,
Em gritos de luz, cortando a madrugada fria…..

terça-feira, 12 de abril de 2011

SENHORA DE TUDO

Mistérios de palavras,
Flutuando em crepúsculos de vozes negras…
Praias onde corre o vento em desatino…
Do outro lado da lua correm presságios,
Velas partidas, desprendidas,
Correm os sete mares, sete ondas, sete marés!
Senhora do mar, rainha da liturgia.
Estrela de vento, cabelos de espuma
Em medos fundida, em espantos guardada…
Senhora de tudo, poema já escrito
De luz e de sombra. Eterno eclipse…
Divina sereia de manto de algas,
Sibila, Senhora de ventre fecundo…
Em tuas mãos deixo o mundo,
Senhora da agonia…
Reza, exorciza, ritualiza,
Em tua forte mente absorvida pela vida.
Metáfora proibida, de sois escondidos
Varridos pelo vento que me arrasta nos caminhos…
Senhora da noite de estrelas vestida…
De espada cingida,
Acalma o tempo, dá tréguas ao vento.
Senhora do tormento, tréguas ao mar….

terça-feira, 15 de março de 2011

SOU AQUELA

SOU AQUELA

Eu sou aquela que em tuas mãos deixa o poema.
Sou o mar, onde as lendas são perdidas,
E nas fundas ondas são guardadas
As caravelas esquecidas…
Sou céu por vezes azul,
Onde nuvens pequeninas brincam
Com a brisa da manhã…
Outras sou tempestade,
Céu negro rasgado por flechas de luz vã…
Sou seara de corpo doirado.
Pomar de frutos maduros,
Onde sacias a fome e o desejo….
Sou flor pobre e daninha que perfuma o prado.
Ou rosa vermelha de fulgor…
Sou sentimento, emoção…
Trago preso ao coração,
As raivas com correntes que me prendem a nada….
Trago nas mãos paixões, amores,
Em forma de flores que te ofereço agora,
Enquanto a noite chega,
E está longe a aurora!....

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

ESCUTA O TEMPO

Escuta o tempo!
Ouve na voz do vento o silêncio
Escondido nas dobras dos vendavais.
Escuta a madrugada,
Em sons indefinidos de quem está a acordar,
No nascer da alvorada há sons de risos,
E ternuras, e restos de noite
Agarrados ao tempo de amanhã…
Há no mar cantos de marinheiros, gritos de arrais…
Bandeiras desfraldadas em caravelas de sonhos intemporais….
Nas searas há o som rumorejante,
Das saias de seda do tempo a correr entre elas,
Tocando-as, soltando mistérios e alquimias…
E quando o sol se põe,
Ouve com os olhos,
Perde-te em oiro e escarlate, e sonha….
Deixa-te levar aos poucos…
Com sons de violinos, o céu sombreia-se de violeta…
Soltam-se perfumes,
A terra nostalgicamente deita-se nos braços do tempo.
E sonha no esplendor do acordar…..

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

DIZ O MEU NOME....

DIZ O MEU NOME...

Se disseres o meu nome.
Se disseres todas as letras que ele contem,
Eu saberei. Ainda que esteja longe, ouvirei...
Porque suavemente o vento,
Entrançará em meus cabelos os teus desejos.
No escuro sentirei a suavidade das tuas mãos...
E então dentro de mim acender-se-á uma fogueira,
Onde em holocausto me oferecerei a um Deus da paixão...
Imolo-me a ti...
Recolho-me ferida e cansada,
Como de uma luta desesperada,
Em que eu própria me venci...